Em tempos de mudanças do clima, precisamos cada vez mais de alimentos saudáveis
No balanço da agenda climática do Brasil, apresentado na Newsletter da Fauna em fevereiro passado, Eduardo Assad apontava que 2023 pode ser considerado o ano no qual foi comprovada a hipótese de maior frequência de ocorrência de eventos extremos. E mais, no último oito de fevereiro o Copernicus, observatório climático europeu, apontou que o primeiro mês de 2024 foi o janeiro mais quente já registrado globalmente; a temperatura média do ar na superfície foi de 13,14 °C, ou seja 0,70 °C acima da média de janeiro de 1991-2020 e 0,12 °C acima do recorde anterior de temperatura em janeiro, que ocorreu em 2020.
O clima é um fator importante na produção agrícola e aumentos de temperatura afetam a fisiologia de plantas e de animais, causando por exemplo, abortamentos, amadurecimento precoce de frutos e prejuízos no desenvolvimento de plantas e de animais. Como consequência, os preços dos alimentos aumentam, dada a menor oferta, e são observados efeitos na segurança alimentar e nutricional principalmente da população mais carente.
A segurança alimentar e nutricional é definida como a capacidade de garantir a todos acesso a alimentos básicos de qualidade e em quantidade suficiente, sem comprometer as outras necessidades essenciais. Portanto, possui quatro dimensões: acesso, disponibilidade, utilização e estabilidade. Estes são influenciados por múltiplos determinantes como desemprego, pobreza, nível de instrução, acesso deficiente aos alimentos, falha nos direitos à propriedade (terra) e ao trabalho digno.
Dentre os muitos efeitos das mudanças climáticas, destaca-se aqui sua interferência na saúde humana. Isto porque aumentos de temperatura – e a amplitude térmica ao longo do ano – influenciam a propagação de vetores de doenças, a qualidade das águas, a poluição do ar e a produção de alimentos. Vários estudos mostram relações entre as mudanças climáticas e a incidência de doenças cardiovasculares e respiratórias, dengue, malária e arboviroses, bem como efeitos negativos na segurança alimentar e nutricional, que por sua vez agrava a saúde humana.
A forma como o alimento é produzido interfere na sua qualidade. Uma alimentação é considerada saudável se for também sustentável. E não apenas numa perspectiva nutricional. Martinelli e Cavalli, numa revisão de literatura publicada em 2019, apontam que os principais contrapontos entre sistemas alimentares insustentáveis e sustentáveis podem ser observados no tipo de sistema de produção, na intensidade do processamento, no tipo de cadeia de comercialização e na forma de consumo:
Fonte: Martinelli e Cavalli (2019).
Mas como saber como o alimento que consumimos foi produzido?
Eis aí uma pergunta importante!
E a resposta é relativamente simples: visitando as áreas de produção de hortifrutigranjeiros que se encontram na periferia das pequenas, médias e grandes cidades. Nessas áreas são produzidos diversos tipos de hortaliças, de legumes, de frutas, bem como ovos, queijos, linguiça e outros produtos de origem animal.
Um mapa elaborado pela Confederação Nacional de Agricultura (CNA) aponta que a produção de frutas e hortaliças se espalha por quase todo país, concentrando-se principalmente nas regiões Nordeste, Sudeste e Sul. E mais, em 2020, o valor da produção de hortaliças foi de R$ 34,4 milhões e ocupou uma área de 1,63 milhões de hectares, enquanto que o valor da produção de frutas foi de R$ 49,85 milhões e ocupou uma área de 2,6 milhões de hectares. Parte dessa produção foi destinada à exportação, na forma de produtos frescos, secos ou processados. Mas boa parte foi comercializada no Brasil, por meio de grandes redes de supermercados e dos chamados canais (ou circuitos) curtos de comercialização.
No sistema agroalimentar, entendido como a soma total de operações de disponibilização de insumos, de produção nas unidades agrícolas, de armazenamento, de transformação e de distribuição de alimentos, os canais curtos de comercialização. Feiras livres, lojas de associação de produtores, cestas para grupos de consumidores organizados ou para entrega em domicílio, lojas de cooperativas de produtores ou de consumidores e lojas virtuais são exemplos de canais curtos de comercialização de hortifrutigranjeiros. Estes constituem uma reconexão entre consumidores e produtores, que se estabelece por meio de relações de confiança. São, a rigor, um contraponto ao modelo de produção e comercialização predominante, que se dá por meio de grandes redes comerciais.
Muitos estudos têm apontado que os canais curtos de comercialização são redes alimentares alternativas para suprimento de alimentos provenientes de sistemas de produção ambientalmente sustentável, dotados de maior qualidade, com respeito à cultura local, ao ambiente e baseados num comércio justo. Outro aspecto importante deste circuito curto é que, na reconexão de consumidores e produtores de alimentos, novas relações e atividades são estabelecidas e permitem que o consumidor conheça como é produzido aquilo que ele adquire para seu alimento. A propriedade rural pode com isso oferecer outros serviços como gastronomia, hospedagem e atividades de lazer e de esporte, fomentando o importante segmento do agroturismo.
Agroturismo: o novo aliado da preservação da atividade rural no Brasil
Dados do último Censo Agropecuário, cuja coleta de dados se deu entre outubro de 2017 e fevereiro e fevereiro de 2018, com divulgação dos resultados definitivos em outubro de 2019, que pouco mais de 15,1 milhões de pessoas estavam ocupando 351 milhões de hectares em pouco mais de 5 milhões de estabelecimentos agropecuários. Cerca de 70% dos estabelecimentos possuíam área entre 1 e 50 hectares e em 3,9 milhões de unidades (77% do total) a gestão da propriedade é compartilhada pela família (agricultura familiar).
Uma das estratégias que tem crescido no Brasil para agregação de valor ao empreendimento rural, principalmente os de base familiar, é o turismo rural ou agroturismo. Segundo o SEBRAE, o turismo rural contribui para a preservação da atividade rural pois sua rotina constitui parte do entretenimento do turista. Além disso, favorece a comercialização de produtos da propriedade sem os custos de distribuição. E mais, o agroturismo estimula a preservação da atividade e do estilo de vida rural, beneficiando a economia regional, valorizando o patrimônio e os produtos locais.
Recentemente, uma pesquisa divulgada pelo Ministério do Turismo, mapeou de 20 de abril a 31 de maio de 2023 as preferências de agroturistas e constatou que, ao escolherem o destino, 70% deles apontaram que esta modalidade de turismo permite estarem mais perto da natureza, com paz e tranquilidade. A pesquisa apontou também que 73% são atraídos pela autenticidade da comida caseira e que Minas Gerais lidera a lista dos estados mais procurados.
O Brasil, país biodiverso, conta hoje com inúmeras rotas do agroturismo. Muitas delas podem inclusive fazer o turista se sentir um produtor de alimentos e essa experiência tem crescido no mundo inteiro. Trata-se do movimento da fazenda para a mesa (o farm to table), começou nos Estados Unidos, com o objetivo era diminuir os fornecedores entre o produtor e os restaurantes. Inicialmente, o objetivo era diminuir os prazos de entrega e os preços dos alimentos. E as consequências foram muito além disso. Um número cada vez maior de consumidores observa que a qualidade e as propriedades nutricionais dos produtos consumidos no local de produção são maiores porque pequenos produtores usam pouco ou não usam conservantes químicos.
Gastronomia, colheita de frutas e natureza: alguns dos atrativos do Roteiro Agroturismo, no Espírito Santo. Fonte: https://www.gov.br/turismo/pt-br/assuntos/noticias/experiencias-do-brasil-rural-o-charme-do-roteiro-agroturismo-do-espirito-santo
Algumas dessas rotas do agroturismo são a Rota do Mel, que atualmente conta com nove polos estruturados: Polo Apícola do Norte de Minas (MG), Polo do Mel de Jandaíra (RN), Polo do Mel do Pampa Gaúcho (RS), Polo do Mel dos Campos de Cima da Serra (RS), Polo dos Sertões de Crateús e Inhamuns (CE), Polo do Mel do Semiárido Piauiense (PI), Polo do Mel do Semiárido Baiano (BA), Polo do Sudeste do Pará (PA) e Polo do Mel do Caparaó e Sul Capixaba (ES). No Pará tem-se também Rota Amazônia Atlântica, talvez um dos passeios mais completos disponíveis no país. Atualmente, ela é composta por dez empreendimentos de agricultura familiar e equipamentos turísticos: Sítio Raiz, Hotel Urumajó, Fazenda Bacuri, Rancho Amuré, Perimerim em Rota, Ostra da Amazônia, Restaurante Cipó Urbano, Loja Virtual Ipê Porã, Restaurante Casa da Dika e Lanchonete Salgateua.
Em Goiás, a Chapada dos Veadeiros oferece atividades de turismo rural e de ecoturismo, enquanto Pirenópolis proporciona visitas a fazendas históricas com instalações antigas, trilhas e refeições típicas. Em São Paulo tem-se o Circuito das Frutas, o Roteiro do Vinho, a Rota Turística do Café e o Caminho do Queijo Artesanal Paulista. Minas Gerais oferece muitas opções, como a Rota do Café Especial, a Rota da Cachaça e a Rota do Queijo Canastra. Aliás, rotas de queijo é o que não faltam; elas são encontradas no Ceará, na Paraíba, em Minas Gerais, em diferentes regiões de São Paulo, no Paraná e no Rio Grande do Sul.
E mais, no Espírito Santo, tem-se a Rota do Carmo, onde o Sítio Pedreiras possui um sistema “colha e pague”, em que o próprio viajante pode colher seus morangos ou amoras orgânicas; no Rio de Janeiro, tem-se o Vale do Café em Barra do Piraí e a Rota Cervejeira, na qual é possível visitar mais de 20 cervejarias em municípios como Petrópolis, Teresópolis, Nova Friburgo e Guapimirim; e no Rio Grande do Sul tem-se as Rotas Gaúchas de Vinho e a Rota das Oliveiras.
Ou seja, conhecer como é produzido o que comemos pode aliar saúde, cultura e enetretenimento. Afinal, pode ser uma forma mais autêntica de viajar, basta fazer as escolhas certas.
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