Eduardo Assad
De maneira geral, há consenso de que as cidades que apresentam processo de planejamento urbano participativo, que garante a gestão democrática, a moradia adequada, os serviços de saneamento básico (abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana, manejo de resíduos sólidos urbanos, drenagem e manejo das águas pluviais urbanas), além de sistema viário de qualidade e serviços de proteção e defesa civil, são inerentemente mais resilientes à maioria dos impactos das mudanças do clima. Claro que tal gestão democrática está longe de ser feita no Brasil. Vivemos aqui a esperança de que prefeitos e deputados vão resolver tudo, mas mantemos a ilusão que essas promessas podem acontecer depois das eleições.
Grande parte das cidades brasileiras apresenta problemas socioambientais associados a padrões de desenvolvimento e transformação do espaço. A mudança do clima tende a acentuar os riscos relacionados aos perigos já existentes, como as inundações, deslizamentos de terra, ondas de calor e limitações no suprimento de água doce. No quesito ondas de calor, a situação vai se agravar se nada for feito. Até o momento temos poucos exemplos de que alguma intervenção nas cidades está sendo feita para minimizá-las. Temperaturas elevadas matam.
No verão de 2003, o Ministério da Saúde francês estimou que 11.435 pessoas morreram por causa da onda de calor no país na primeira metade de agosto daquele ano. As temperaturas superaram os 40 ºC nas duas primeiras semanas do mês, causando um número extraordinário de mortes, principalmente de pessoas idosas. As ondas de calor não diminuíram por lá e os registros do verão de 2023, apontaram que mais de 5.000 pessoas morreram devido a esses picos de calor. O verão de 2023 foi o quarto mais quente da história do país, desde que os registros começaram em 1900.
Os registros indicaram que:
- Cerca de 3.700 mortes foram entre pessoas com mais de 75 anos; desses, 1.500 ocorreram durante as ondas de calor;
- O aumento do número de mortes foi maior entre as mulheres do que os homens.
No Brasil não é diferente. Recentemente, um estudo envolvendo dados de diferentes países, incluindo o Brasil, aponta que o aquecimento global aumentaria a mortalidade nas estações quentes e diminuiria a mortalidade nas estações frias no futuro.
Obviamente que a população mais atingida certamente será de pobres que moram na periferia e em favelas.
Neste contexto, o jornalista Marcello Leite escreveu uma coluna na Folha de São Paulo, na qual apresentou exemplos simples de como algumas ações junto às comunidades podem minimizar os efeitos das ondas de calor e possivelmente reduzir os óbitos nas populações carentes. Segundo ele: “O lado bom de se ocupar com esses temas é que a gente nunca pára de se surpreender e de aprender. O último espanto veio ao encontrar no diretório de pesquisa clínicas clinicaltrials.gov um estudo sobre a eficácia de telhados frios para melhorar a saúde humana.”
Os principais impactos seriam com relação às doenças cardiovasculares, metabólicas ou endócrinas, gravidez e depressão, que podem complicar-se com exposição a altas temperaturas.
Como minimizar o problema?
Uma medida simples de adaptação à mudança climática consiste em pintar os telhados com tintas capazes de refletir a maior parte da radiação solar, deixando de propagá-la para o interior das moradias. Alguns dos produtos no mercado anunciam redução na temperatura ambiente de até 9ºC. As tintas mais adequadas para isso seriam as de cor branca.
Vejam como seria o visual de uma favela se as casas fossem pintadas de branco:


A arte e a imaginação ficam por nossa conta. Não vejo, na foto original, ar-condicionado, ventiladores, ou qualquer outra medida que aumente o conforto da população. Alguns exemplos já existem no Brasil, mas o objetivo foi de enfeitar as favelas, pintando com várias cores. Fica bonita. Lembra a cidade de Modena na Itália. Pena que nossa população não tenha o poder aquisitivo da população italiana.
Enfim, enquanto discutimos o Plano Clima de Adaptação, que vem de 2012, as ondas de calor vão aumentando e nossos prefeitos e parlamentares são incapazes de adotar soluções simples para não adaptar, mas minimizar os efeitos das mudanças climáticas nas áreas onde vivem os mais desfavorecidos.