Agricultura brasileira: tão diversa quanto o país

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Por Leonor Assad

Os impactos das mudanças climáticas na economia nacional e, em particular na agricultura brasileira, ganharam espaço na mídia nos últimos anos. Frequentemente nos deparamos com notícias sobre secas severas, grandes queimadas e inundações históricas, que provocam muitos riscos para as populações afetadas e muitas perdas na produção agrícola do país. Isto porque grande parte dessa produção é realizada a céu aberto, ou seja, a maioria dos cultivos dependem diretamente das condições climáticas e possuem pouca proteção natural contra eventos extremos.


Secas, excesso de chuvas, geadas e aumentos de temperatura têm ocorrido de forma desordenada, contribuindo para o aumento da degradação do solo e forçando agricultores a rever suas estratégias de plantio. Áreas que antes eram tradicionalmente dedicadas à agricultura estão sendo abandonadas, enquanto outras, previamente não tão propícias, demandam adaptações. Este cenário tem exigido que produtores rurais, grandes, médios e pequenos, compreendam o comportamento do clima num cenário de alteração e se adaptem a essas mudanças.


O Panorama Regional de Segurança Alimentar e Nutrição para a América Latina e o Caribe 2024, divulgado em janeiro deste ano, aponta que a região é a segunda mais exposta a eventos climáticos extremos no mundo, ficando atrás apenas da Ásia. Na América Latina, 74% dos países analisados (20 países) enfrentam alta frequência de eventos extremos, o que corresponde a uma exposição significativa; e 14 países (52%) são considerados vulneráveis, pois têm maior probabilidade de apresentar aumento na subnutrição devido a esses eventos.


Atualmente, está cada vez mais evidente que a agricultura tem um papel importante na mitigação e na adaptação a mudanças do clima, seja por ser a principal fonte de alimentos, seja pelo seu papel na captação de CO2 na atmosfera, que contribui para a diminuição da temperatura. Mas nem todos os sistemas agrícolas apresentam o mesmo potencial de mitigação e adaptação. Isto porque a capacidade de captação CO2 varia conforme o tipo de cultura e o tipo de sistema de produção. Sistemas de produção agrícola intensivos e baseados em uma única cultura, como monoculturas de grãos, são menos eficientes do que sistemas de produção diversificados, que associam culturas de diferentes tipos de ciclos (de ciclo curto, culturas anuais, culturas perenes). Além disso, existem diferenças na eficiência em fixar carbono e no seu comportamento no ambiente em que se desenvolvem, especialmente, com relação à temperatura, à disponibilidade hídrica e à luminosidade.


O Produto Interno Bruto (PIB) da agropecuária brasileira envolve a contribuição dos setores da agricultura e da pecuária para a economia total do país e é calculado por meio do valor adicionado de todas as atividades agropecuárias, incluindo a produção de alimentos, insumos agrícolas, serviços e agroindústria. Em 2024, o PIB da agropecuária foi de R$ 2,72 trilhões, representando 23,2% do PIB total do Brasil. Soja, complexo sucroalcooleiro, milho, café, açúcar, carne bovina, aves, papel e celulose são exemplos de produtos que impulsionam o agronegócio brasileiro. Boa parte desses produtos tem por destino exportações para China, que absorve uma parcela significativa de produtos como soja e carnes; União Europeia, que é o segundo maior destino, com produtos como café e frutas tropicais; Estados Unidos, que importa vários produtos, principalmente açúcar e café; além de Argentina, Países Baixos, Indonésia e Vietnã que importam produtos como trigo, milho e frutas tropicais.


Mas um segmento muito importante no Brasil é a agricultura de base familiar, responsável por grande parte da produção de alimentos que chegam às mesas dos brasileiros. A agricultura familiar contribui significativamente para a segurança alimentar, produzindo alimentos essenciais como feijão, arroz, mandioca, frutas, verduras, leite e carne. Ela gera empregos e renda no campo, e promove o desenvolvimento sustentável das comunidades rurais, valorizando a cultura local e preservando a biodiversidade. Parte dos alimentos que chegam às casas brasileiras, como feijão, arroz, milho, leite, batata, mandioca, vêm de produções familiares.


A agricultura familiar, por vezes denominada de pequena agricultura, apresenta uma grande diversidade de atores, pois inclui desde pequenos proprietários que cultivam para subsistência até comunidades tradicionais e indígenas que praticam agricultura. A agricultura familiar contribui para a estabilidade da oferta de alimentos, mesmo diante de flutuações econômicas ou crises. Essa diversidade abrange diferentes sistemas de produção, desde a agricultura familiar tradicional até a agricultura orgânica e a agricultura de subsistência. Com isso, promove a diversidade de cultivos e garante uma oferta mais variada de alimentos e de produtos rurais. Além disso, a agricultura familiar inclui diversos grupos e comunidades, como silvicultores, aquicultores, pescadores, extrativistas, indígenas, quilombolas e assentados da reforma agrária.
Portanto, é sempre importante lembrar que a agricultura brasileira não só contribui para a composição do PIB brasileiro. Ela reduz a pobreza rural, garante alimento para a população e é uma atividade importante para a preservação da identidade e do conhecimento ancestral brasileiro.

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