Apesar dos esforços, os impactos no ambiente continuam inquietantes

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Leonor Assad

Em 22 de março último, comemorou-se o Dia Mundial da Água, estabelecido pela ONU (Organização das Nações Unidas) em 1992. A água é substância fundamental para a vida na forma como a conhecemos. A Terra é o único planeta do sistema solar que possui água: 1,335 bilhão de km³ (ou 1,335 zilhões). A superfície de água na Terra é constituída por 71% de água, mas do ponto de vista da vida humana ela está mal distribuída: 97% da água da Terra é salgada e está nos oceanos e nos mares; dos 3% restantes 2,2% estão na forma de gelo; 0,6% dela estão embaixo da camada superficial do solo; 0,1% estão na atmosfera; e somente 0,1% dela estão disponíveis nos rios e lagos do planeta.

Mas a água no planeta está em risco.

Isto porque em áreas densamente povoadas observa-se um acúmulo de microplásticos em sedimentos. A ingestão de microplásticos é um risco para a saúde humana assim como para todos os organismos vivos. Microplásticos podem ficar acumulados em áreas de manguezais, onde as águas superficiais têm pouca energia (rios, estuários, lagoas), afetando drasticamente a biota local. Isto foi observado, por exemplo, em pontos do rio dos Bugres, entre as cidades de Santos e São Vicente. Com mais de 62 mil partículas de microplástico por quilograma de sedimento coletado (areia ou lama do fundo da água), este rio foi classificado como o segundo mais contaminado por microplásticos no planeta.

Outra pesquisa aponta que o ansiolítico clobazam, um poluente aquático comum, está presente no cérebro do salmão do Atlântico e influencia seu comportamento migratório, provavelmente pela redução da tendência de formar cardumes. Até agora, cerca de mil medicamentos ou suas versões transformadas por sua passagem pelo organismo humano já foram identificados em ambientes aquáticos.

Os recursos hídricos, superficiais e os aquíferos subsuperficiais, também estão em risco em função de atividades de mineração. Isto pode ser consequência do alto consumo de água para beneficiamento do minério; por meio do rebaixamento do lençol freático durante a etapa de extração do minério, diminuindo o fluxo de água dos rios e impactando também a recarga dos aquíferos; e por meio de rejeitos com concentração de substâncias tóxicas que são levadas até os recursos hídricos pelo escoamento superficial das águas, através de rompimentos ou transbordamento de barragens.

Também na agricultura, o uso indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos vem causando grandes desequilíbrios ambientais, poluindo principalmente as águas dos rios, lagos e mares. Um dos principais efeitos negativos da agricultura é seu impacto na proliferação de algas nocivas em corpos d’água. Por exemplo, nitrogênio e fósforo provenientes de fertilizantes, tanto sintéticos quanto orgânicos, apesar de serem essenciais para a produtividade das culturas, podem provocar aumento da quantidade de algas, o que reduz os níveis de oxigênio e a qualidade da água. Práticas de irrigação excessiva podem aumentar o escoamento superficial, transportando nutrientes e dejetos animais para corpos d’água superficiais próximos, bem como para a lixiviação de nutrientes para águas subterrâneas. Erosão do solo, uso de pesticidas e de herbicidas também representam risco para águas em áreas agrícolas.

O uso abusivo de agrotóxicos em culturas agrícolas vem sendo apontado há décadas como uma das causas de incidência de câncer em trabalhadores e consumidores. E mais, essa incidência parece estar aumentando em populações cada vez mais jovens. Estudos apontam que desde 1990, a incidência e as mortes por cânceres precoces aumentaram substancialmente em todo o mundo; e mais, cânceres de mama, traqueia, brônquios e pulmão, estômago e colorretal de início precoce apresentaram a maior mortalidade e carga em 2019. Fatores de risco dietéticos (dieta rica em carne vermelha, pobre em frutas, rica em sódio e pobre em leite, entre outros), consumo de álcool e tabagismo são os principais fatores de risco subjacentes aos cânceres de início precoce. Na contramão dessas evidências, em 2024 o Brasil bateu recorde na liberação de agrotóxicos e defensivos biológicos. Ainda que alguns produtos sejam para controle biológico, dados do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apontam que foram aprovados 663 defensivos agrícolas, ou seja, um aumento de 19% em relação a 2023, quando 555 aprovações foram registradas.

As mudanças no clima na Terra constituem um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta atualmente. Evidências científicas apontam que os agrotóxicos contribuem significativamente para as emissões de GEE (gases de efeito estufa) e, ao mesmo tempo, torna os sistemas agrícolas mais vulneráveis ​​aos efeitos das mudanças climáticas. No entanto, a redução do uso de pesticidas sintéticos tem sido omitida das soluções para enfrentamento das alterações climáticas. Por exemplo, mercados de carbono permitem que as empresas agrícolas ou agricultores vendam créditos de carbono para as corporações para compensar a contínua emissão de GEE, que perpetua a dependência de combustíveis fósseis.

Como já colocado aqui na Fauna, o Prof. Paulo Artaxo, da USP e um dos principais cientistas do clima no Brasil, aponta que as emissões continuam aumentando, enquanto deveriam estar diminuindo: “Já ultrapassamos os 1,5ºC previstos no acordo de Paris para 2030. Dificilmente vamos conseguir segurar o aumento da temperatura até 2ºC para o mesmo período. Eventos extremos vão ocorrer com uma frequência 39 vezes maior do que hoje, nos próximos 50 anos”.  As estimativas precisam levar em conta os diferentes fatores que contribuem para o aumento dos gases de efeito estufa.

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