Conheça o Fazenda Nota 10 e como a Fauna Projetos tem contribuído para este programa de referência da pecuária brasileira.
Neste mês de março, entrevistamos Antônio Chaker, gestor do Instituto Inttegra e Hellen Braga, consultora analista do Programa Fazenda Nota 10. Nesta oportunidade, diversos temas relevantes para o setor de agropecuária foram abordados, entre eles, a importância de se considerar os aspectos ambientais ao negócio. O Programa Fazenda Nota 10 está avançando nessa agenda ao incorporar às suas análises os balanços de gases de efeito estufa de cada fazenda participante e esses inventários estão sendo realizados pela equipe da Fauna.
Veja mais sobre esta iniciativa na entrevista:
F: Como surgiu o programa Fazenda Nota 10 e qual seu principal objetivo?
R: O programa surgiu com uma proposta de realizar melhorias na cadeia. A Friboi, grande compradora de bovinos, entendeu que precisava atender uma fração de seus clientes que são proprietários de fazendas médias e pequenas que nem sempre tem acesso a processos de consultoria e de gestão. Nesse sentido, o programa foi estruturado com intuito de auxiliar o fornecedor da Friboi ter uma gestão mais profissional. No decorrer do processo de implementação do projeto foram aparecendo algumas necessidades. No início o foco era produtividade e rentabilidade. Depois, a questão dos recursos humanos e a capacitação para liderança surgiu como um ponto de atenção importante. Em sequência o olhar se voltou para saúde e bem-estar animal até chegarmos atualmente à atenção ao GHG, com propósito de construir práticas para Pecuária Regenerativa.
É importante destacar que o trabalho coordenado pela Hellen Braga no Programa, juntamente com apoio da Fauna- Negócios com propósito, provavelmente será a maior análise do país de fazendas com balanço de emissões. Há um estudo anterior realizado com 40 propriedades. Atualmente o Fazenda Nota 10 já está com 87 propriedades envolvidas.
São 87 novas propriedades que serão capacitadas em diversos assuntos incluindo GHG como pilares de desenvolvimento integral dentro do Programa.
F: Na safra 2022/2023 o Programa voltou seu olhar para além da gestão, dando atenção a pauta da sustentabilidade. O que mudou nessa temporada?
R: O aquecimento global está sendo levado a sério pelas grandes empresas. Nesse contexto, existe um olhar de atenção para emissão de metano dos bovinos e para cadeia como um todo. O Programa atua fundamentalmente como Benchmarking.
O Instituto está levantando os dados e os compara, pautados no pedido de atenção dos três principais patrocinadores do Programa: Friboi Sustentabilidade, Friboi Couros e o Curtume Asiatan.
A receptividade dos proprietários foi uma surpresa positiva. Muitos clientes estão interessados em conhecer seus números e posteriormente realizar um estudo de crédito de carbono. O Fazenda Nota 10 está levando aos clientes informações importantes com apontamento de caminhos e soluções. São métricas relevantes que provavelmente sem a consultoria, os proprietários não teriam acesso.
F: Qual importância de trabalhar com métricas e ter acesso ao balanço de emissões?
R: O assunto é novo para nós e para eles. Entretanto, assim como a Setor da Pecuária tem dado valor ao tema, nós entendemos que os proprietários também darão assim que aprenderem sobre os números e criarem o hábito de monitorar anualmente. Nesse sentido, o levantamento é o primeiro passo. Posteriormente é preciso buscar a compreensão do que eles significam. Toda essa etapa de aprendizagem está sendo levada de forma clara e simplificada para os pequenos e grandes produtores.
F: Muito tem se discutido sobre ESG. Na Agropecuária como vocês enxergam à agricultura de baixo carbono e como tem sido a receptividade dos proprietários com pautas associadas ao tema?
R: O Fazenda Nota 10 tem o objetivo da criação de um centro de Pesquisa sobre Pecuária Regenerativa, que engloba um olhar para esse processo similar ao da agricultura. Apesar da agricultura de baixo carbono não fazer parte especificamente do Programa, o Instituto Inttegra atende 400 mil hectares de agricultura em outros projetos e realiza um acompanhamento próximo das Fazendas Biológicas.
Uma das fazendas mais importantes nessa agenda que é a Agropecuária Roncador que já plantou quase 30 mil hectares 100% biológico e regenerativo. O modelo é excelente, as lavouras são mais resilientes, economicamente mais viável. Há o preço da gestão, já que esse modelo exige um maior cuidado e acompanhamento, informações atualizadas, treinamento… se trabalha mais processualmente nesse modelo. Contudo, os resultados são expressivos e diferenciados das demais inciativas. O futuro do Agronegócio seja na agricultura ou pecuária, é biológico e regenerativo. O Brasil é imbatível como maior produtor de comida verde do planeta e seremos potência mundial na produção de comida e captura de GEE.
F: Como o inventário de emissões de GEE contribui de forma prática nos objetivos de mitigação das mudanças climáticas junto ao Programa Fazenda Nota 10?
R: O tema está sendo abordado pela necessidade do setor que acompanha Agenda Nacional e Internacional. Todavia, individualmente todos compreendemos e buscamos um planeta melhor e sustentável. Além da ciência, agimos com os pecuaristas por meio da comunicação direta e clara. É importante para eles compreenderem que dentro da cadeia produtiva, principalmente de uma indústria frigorífica tão grande que está dentro do processo, se faz necessário mostrar ao mundo que a pecuária não é o vilão ambiental, muitas vezes erroneamente divulgado.
F: O Agro ainda é muito associado a questões negativas de impacto ambiental. Vocês que acompanham o dia a dia do setor, qual tem sido de fato a realidade? O Agro pode ser lucrativo e sustentável?
R: Para que ele seja lucrativo ele precisa ser sustentável. Pois, quando a fazenda não opera em um ambiente sustentável há alta degradação do solo, desmotivação das pessoas e consumo das principais fontes naturais, que em algum momento, vão cobrar um preço muito alto. Nessa lógica, o lucro do produto despenca significativamente. Um exemplo do contrário é Pecuária Regenerativa. Nesse caso, o lucro aumentou de 0,8% unidades animal para 2,8% unidades animal, usando práticas regenerativas e sustentáveis e com custo muito menor do que em modelos tradicionais.
O Brasil é jovem quando falamos de agricultura. Nos últimos 40, 50 anos aconteceram grandes mudanças no uso da terra. O país ainda possui 66% de mata ativa, que é número que nenhum país possui.
Nos últimos 15 anos as leis também estão muito claras, de forma que não se pode mais derrubar mata. O produtor que faz isso, perde o direito de vender o produto dele de tomar financiamento em banco. Então, o produtor brasileiro mesmo, não derruba a mata porque sabe que se prejudicaria. Quem faz isso são os popularmente conhecidos como “grileiros”, criminosos que invadem áreas com questões fundiárias e as utilizam de forma indevida. E essa postura infelizmente acaba para a conta do agricultor e do pecuarista.
Os clientes do Programa têm esse perfil de pessoas que querem mudar e que se preocupam de fato com o bem estar dos animais, dos funcionários e se empenham para que a pecuária seja um destaque muito maior do que já é. Cada pecuarista tem o seu perfil de trabalho, mas, dentro dos inúmeros proprietários que atendemos há um ponto comum entre todos: a curiosidade e o ímpeto de aprender como ser e fazer melhor, desde o processo, a implementação e a mudança de práticas e hábitos rumo à sustentabilidade.
Nesse contexto, a legislação brasileira é uma das mais modernas do mundo e garante a segurança do nosso bioma. Se o indivíduo estiver ilegal ou tiver algum problema fundiário, haverá limitação comercial. Por outro lado, a lei possui mecanismos que são coordenados pelo Governo e pela iniciativa privada para a pessoa possa se regularizar.
A própria Friboi possui escritórios verdes que acompanham os proprietários com assessoria jurídica e, auxiliam na recomposição e regularização da terra para legalidade.
Trata-se de um processo pouco divulgado, mas muito eficiente tanto para bloquear a comercialização do produto, quanto para propiciar condições para que o proprietário possa se restituir e regularizar aquilo que deve.
Nesse trabalho com a Fauna – Projetos com propósito, nós queremos ampliar o olhar para falarmos além da produtividade de arrobas, lucro e margem. Queremos falar sobre produção com métrica e sustentável a favor do planeta.
F: A Fauna atua pautada na ciência por meio do levantamento de métricas em busca de soluções climáticas e sustentáveis. O tema ainda parece inacessível e distante para muitas pessoas, apesar de todos os eventos extremos vivenciados nos últimos anos. Como vocês enxergam a realização desses projetos na prática para mitigação dos efeitos climáticos? Qual o papel da educação e da comunicação na conscientização com os proprietários e consumidores em relação ao meio ambientes?
R: O setor do agronegócio possui uma deficiência na área de comunicação. Os encontros e debates são fervorosos, mas, a sociedade civil urbana não tem ciência de tudo que está acontece, da real importância e dos desafios do produtor.
É necessário criar mecanismos para se comunicar bem, de forma não arrogante e eficiente.
Ainda pregamos para convertidos. Em contrapartida, os movimentos que são contra o setor ou mal-intencionados, atingem muito mais pessoas de fora da “bolha”.
O Professor Assad e toda equipe da Fauna são muito importantes nesse projeto. Não apenas por serem referência no assunto, mas, por marcarem um novo passo de aprendizagem, que impactará todas as fazendas e nosso equipe rumo a uma pecuária mais sustentável.
Para conhecer mais detalhes sobre o Programa Fazenda Nota 10, acesse https://www.fazendanota10.com.br/