Não existe acaso em atos políticos

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Eduardo Assad

Qual a relação que os atos de vandalismo, ocorridos em Brasília no dia 08 de janeiro de 2023, têm com o avanço dos estudos e a busca de soluções para as mudanças climáticas que aflige a todos?

A história é longa. Mas não custa nada lembrar. Nos idos de 1977, o ministro do Exército era o General Silvio Frota, representante máximo da direita da direita do Exército brasileiro. Não muito satisfeito com o General Geisel, então Presidente da República, que desejava indicar o General João Figueiredo para sua sucessão, o General Silvio Frota começou a promover uma tentativa de golpe, no então governo ditatorial de plantão. Não deu certo. Foi defenestrado do governo, demitido e acabou em casa de pantufas.

Naquela época, o ajudante de ordens do General Silvio Frota era o então tenente Augusto Heleno. Este, quando foi interpelado por este fato, disse que não sabia de nada, pois só tinha 30 anos. O fato é que este tenente, hoje general da reserva, assimilou o DNA do golpe, e pelas suas declarações e falas no Twitter (https://twitter.com/gen_heleno ), fica bem claro de que lado está. Ou seja, é à direita, da direita do Exército hoje.

Muda o governo e o “poderoso” General se isola com suas pantufas em casa e sai de cena, para ressurgir nove meses depois da posse do novo presidente,  num vergonhoso interrogatório da CPI  dos Atos Antidemocráticos,  de 8 de janeiro. Uma tristeza ver aquilo. O fato é que este cidadão, que era o chefe da GSI (Gabinete de Gestão Institucional) da Presidência da República, mandou e desmandou no Governo Bolsonaro. Mas do alto de sua ignorância científica, este cidadão enalteceu e deixou claro nas suas mensagens no Twitter™, para o povo brasileiro seguir os maiores negacionistas do clima que temos. Um deles foi demitido por abandono de emprego da USP. Outro disse recentemente que os gaúchos poderiam ficar tranquilos pois não haveria chuvas intensas no Rio Grande do Sul, isso dois dias antes de acontecer uma enorme catástrofe naquele estado, devido às chuvas intensas, exaustivamente indicadas pelos cientistas que estudam o clima e as mudanças climáticas, nos últimos 20 anos .  Um terceiro, conhecido como guru ambiental do governo Bolsonaro, era contra a Reserva Legal e, discretamente, apoiava o desmatamento. Quanto às mudanças do clima, sempre negou. Uma matéria detalhada na revista Piauí, mostra quem é o personagem, hoje aposentado da Embrapa.  Pelos blogs e matérias de jornal recentemente publicadas, numa eficiente transformação típica de um camaleão, é ambientalista desde criancinha e boa parte do agro acredita neste cidadão.

O fato é que com o descrédito do General, provocado por ele mesmo, os negacionistas do clima, antes defendidos abertamente pelo antigo governo, hoje não são mais. As mudanças climáticas estão aí, as populações estão sofrendo. O golpe deu um tiro no pé, como em 1977.

Não é difícil de entender que mesmo a temperatura aumentando para todos, os impactos serão muito maiores nas populações pobres. A injustiça climática começa a se desenhar claramente no setor da saúde. O rico liga o ar-condicionado, tem acesso a água potável e saneamento básico garantido. Portanto, os impactos do clima nas populações são seletivos. Mais recentemente, na grave seca na região semiárida nordestina, as chuvas intensas no litoral de São Paulo e a seca persistente na região sul do Brasil atingiram principalmente, as populações desassistidas e os pequenos agricultores. Por mais que os negacionistas gritem e desmereçam os estudos sobre o clima hoje, os fatos estão bem claros.

Os impactos climáticos que estão sendo observados tem seus aspectos muito claros de injustiça climática, não só no Brasil, mas em todo o planeta. O último relatório da Organização Meteorológica Mundial, WMO-1347,  “ A situação do clima global em 2023”, indica que, ao longo do ano, eventos e condições perigosas relacionadas ao clima e desempenharam um papel significativo na condução de novos deslocamentos populacionais.

A maioria das pessoas deslocadas por conta do  clima ou eventos relacionados ao clima permaneceram dentro dos territórios onde residiam, enquanto em  outras  situações as pessoas foram forçadas a fugir pelas fronteiras internacionais em busca de segurança e assistência. Ao mesmo tempo, os riscos climáticos e relacionados ao clima pioraram e prolongaram a situação de milhões de pessoas que já viviam em situação de deslocamento no início do ano de 2022. Os principais países  atingidos foram a Etiópia, Quênia, Somália com eventos de seca extrema. Isso também foi observado no Brasil, entre os anos 2015 a 2020. Estima-se que 95 milhões de pessoas foram atingidas por estes impactos catastróficos da seca nos meios de subsistência pastoris e agrícolas e a fome durante os últimos quatro anos. No Brasil, foram observados vários fenômenos que impactaram as populações, como seca, inundações, chuvas intensas, vendavais, ondas de calor e ondas de frio. Diferentemente dos países africanos, no Brasil somos atingidos por quase todos os eventos climáticos que vêm se intensificando a cada ano. Nada diferente do que se conhece hoje. Os mais atingidos são os pobres e desassistidos.

Do ponto de vista econômico a catástrofe continua. Perdas  de vidas por enchentes, secas, quebra de safras acentuadas, queimadas nos indicando um futuro sombrio, se continuarmos a dar atenção aos negacionistas do clima. O fato é que o general, com DNA golpista desde 1977, não está mais no governo, e os negacionistas estão definhando. É preciso ficar alerta com a atuação desses personagens e, principalmente, nunca esqueçamos de lembrar, quem foram e quem são essas pessoas.

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