Por Alice Assad
Desde que o Partido Democrata perdeu as eleições no ano passado, temos visto um movimento cada vez mais forte de empresas que antes se posicionavam a favor das políticas de ESG darem passos largos para trás.
Mas atribuir esse movimento anti-ESG a Donald Trump é dar crédito demais a ele.
A agenda ESG vem perdendo força já algum tempo por diversas razões, vamos a elas:
- Existem dois grupos de empresas que investem em ESG: um composto por empresas que acreditam que os desafios socioambientais precisam ser transformados em oportunidades de negócio, gerando impacto positivo para a sociedade; e outro que, vestiu a roupa do ESG como uma estratégia de marketing e abrilhantar o relatório de sustentabilidade. Ambos investiram dinheiro na agenda ESG, mas apenas um não sucumbe no caminho porque sabe o real impacto da sua empresa na sociedade.
- A ascensão da extrema direita no mundo todo, que carrega consigo o racismo e preconceitos e que não admite que governos e empresas olhem com atenção para questões de inclusão, diversidade e clima, porque acredita que isso é perda de tempo quando os países estão enfrentando problemas econômicos como;
- A guerra da Ucrânia e Russia, que aumentou o preço de energia em países europeus e os EUA no momento em que estavam investindo massivamente na transição energética. A guerra impactou diretamente em fatores econômicos, como a inflação e essa transição verde tem perdido força, como é o caso da Alemanha.
- Fatores geopolíticos também influenciam a agenda ESG, quando EUA e União Européia aumentam as taxas de importação de carros elétricos vindos da China, diante do aumento da participação de mercado das empresas chinesas.
Nessa tempestade perfeita, temos Donald Trump reconduzido ao cargo de presidente dos Estados Unidos e se declarando veemente contra as ações afirmativas e a agenda climática.
O resultado disso?
A Meta cancelou seu programa de checagem de fatos e colocou pessoas da atual gestão dos EUA no seu conselho administrativo.
A Goldman Sachs declarou que não vai mais recusar estruturar IPOs de empresas, cujos conselhos sejam compostos apenas por homens brancos.
A Disney encerrou o seu programa de inclusão e diversidade, tirando do ar do dia para noite.
Esse grupo de multinacionais ainda tem a Ford, Google, McDonald’s Walmart e outras tantas que alegam que estão buscando cumprir com regras do governo atual e um ambiente legal, fazendo referência à decisão da Suprema Corte que considerou inconstitucional ações afirmativas.
O que não está sendo dito corretamente é que não há regras do governo atual, desde o dia 20 de janeiro de 2025 está acontecendo o desmonte de uma série de iniciativas e leis implementadas pelos Democratas que convergem com a agenda ESG, ou seja, diretamente relacionadas à questão climática, social e de governança. Mas nada está sendo proposto de novo, apenas deixando de existir.
Isso não significa que só porque o governo americano não acha importante erradicar o canudinho de plástico que a sua empresa deve retroceder e voltar a oferecer isso aos clientes. Tampouco significa que só porque a Comissão de Valores Imobiliários dos Estados Unidos quer derrubar a obrigatoriedade das empresas listadas na bolsa de reportarem suas emissões de gases de efeitos estufa e propostas de divulgação climática que a sua empresa deva parar de fazer isso.
Investir em políticas de diversidade, inclusão e equidade, projetos de redução de emissão de gases de efeito estufa e transparência exige tempo, energia, dinheiro e consistência. As empresas e governos que fizeram a escolha de seguir por este caminho há alguns anos atrás porque acreditam e entendem a importância de mudar, permanecem comprometidas com essa agenda.
Aquelas que investiram apenas por modismo, visando mais lucro financeiro do que serem verdadeiros agentes de mudança, sucumbem no caminho nessa onda anti-ESG. E a mensagem que transmitem é clara: nunca foi porque acreditam ser importante, sempre foi uma estratégia de marketing para defender exclusivamente os interesses dos investidores, sem considerar a sociedade como um stakeholder. E é ai que as máscaras caem e o greenwashing aparece. As empresas que recuam neste momento não estão considerando o fator reputacional que é gravemente afetado em razão dessa falta de consistência por política.
Felizmente o cenário do Brasil é diferente, porque temos robustez legal, que traz obrigações de inclusão para empresas, a lei de 2023 sobre igualdade salarial, a obrigatoriedade de transparência duas vezes por ano ao Ministério do Trabalho e um STF que julgou como constitucional ações afirmativas em universidades e serviço público.
O meu alerta é: daqui quatro anos quando houver a atual gestão sair, porque isso é um fato concreto haja vista que ela não pode ser reeleita, veja se a Meta, a Amazon, o Google, a Disney, a Goldman Sachs e todos os outros que hoje são anti-ESG, vão beber um chá de pirlimpimpim e num passe de mágica retomarão todas as suas iniciativas interrompidas em 2025.