Por Eduardo Assad
Os EUA sob o comando do presidente Donald Trump não está apenas permitindo mais emissão gases de efeito estufa. Ele está minando a capacidade do país de compreender e responder a um planeta mais quente.
Quando o governo Trump declarou, há duas semanas, que ignoraria amplamente o custo econômico das mudanças climáticas ao definir políticas e regulamentações, foi apenas o passo mais recente em um esforço multifacetado para apagar o aquecimento global da agenda americana.
Mas o presidente Trump está fazendo mais do que simplesmente ignorar o fato de que o planeta está ficando mais quente. Ele está enfraquecendo a capacidade do país de compreender o aquecimento global e se preparar para suas consequências.
O governo desmantelou a pesquisa climática, demitindo alguns dos principais cientistas do país, fechou institutos e desidratou importantes equipes de pesquisas que colaboram com todo mundo na compreensão das mudanças climáticas e o que está acontecendo. Tal fato vai limitar ainda mais nossa capacidade de propor ações de mitigação e adaptação as mudanças que estão aí. Obviamente que para os EUA, isso não importa, uma vez que os que serão mais atingidos serão os países mais pobres. O governo não monitorará mais as principais fontes de gases de efeito estufa, dados que têm sido usados para medir a escala e identificar as fontes do problema nos últimos 15 anos. O próximo golpe que está anunciado, é o laboratório da NOAA no Havaí, que desde 1958 monitora a concentração de CO2 na atmosfera. Qualquer pessoa que entende minimamente o que está acontecendo, conhece a chamada curva “Keeling”, que atualiza initerruptamente a concentração de CO2 na atmosfera. O chamado Departamento de Eficiência Governamental, o esforço de redução de custos liderado pelo bilionário Elon Musk, propôs o fechamento do deste observatório da NOAA no Havaí
Nas últimas semanas, mais de 500 pessoas deixaram a Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA), a principal agência governamental para ciência climática e meteorológica. Isso levou o Serviço Nacional de Meteorologia (NOAA), uma agência dentro da NOAA, a alertar sobre “operações degradadas”.
Caso aconteça, e provavelmente acontecerá, será um forte golpe para os cientistas que estudam o clima, no mundo todo.
Daniel Swain, cientista climático da Universidade da Califórnia, em Los Angeles disse “Ao se livrar dos dados, o governo está tentando interromper o debate nacional sobre como lidar com o aquecimento global, disse. “A noção de que existe qualquer realidade factual compartilhada parece estar completamente fora de questão”, disse ele.”. Ou seja, é mais fácil matar o mensageiro para resolver a questão climática.
Nessa mesma direção, Brandon Jones, presidente da União Geofísica Americana., indica que “a falta de coleta de dados científicos prejudicará nossa capacidade de compreender o mundo natural e físico, e também afetará nossa capacidade de fornecer sistemas de alerta precoce para tempestades severas ou o próximo incêndio florestal. Isso terá um impacto em vidas.”
O Brasil é atingido em cheio com essas ações do governo Trump. Boa parte dos nossos modelos, vem de modelos desenvolvidos nos EUA. Outros vem da Europa e Asia. Teremos muita dificuldade de avançar nas possíveis soluções para enfrentar as mudanças climática em região tropical, e de prever impactos dos fenômenos El Niño e la Niña, no Brasil
Os “lunáticos do clima” são culpados pelas regulamentações ambientais que, segundo o Presidente, têm sido um empecilho para a economia dos EUA. Conhecemos bem essa conversa. Nosso senado que o diga. E cada vez mais os desastres vem acontecendo.
Enfim, é o caminho certeiro para um colapso científico que poderá atingir o mundo todo.
Adaptado da matéria The U.S. Under Trump: Alone in Its Climate Denialdo New York Times de 19/05/2025