Eduardo Delgado Assad
Neste último mês foram veiculadas diversas notícias sobre a emergência climática no mundo, algumas boas, outras muito ruins. Normalmente em períodos passados, eu e outros colegas éramos conhecidos como os cavaleiros do apocalipse. Isto porque, nos eventos que participávamos, éramos os mensageiros de notícias ruins. A temperatura que subia, os eventos extremos que atingiam frequências alarmantes, as doenças que cresciam em função do aumento de temperatura e umidade, a biodiversidade que estava cada vez mais ameaçada. Enfim, foram anos a fio mostrando resultados científicos que comprovavam essas notícias. Era difícil dar uma notícia boa.
Então vamos lá: as emissões de GEE na Europa diminuíram 8,3%, como resultado do avanço das energias renováveis, e da pequena, mas consistente, redução do consumo de combustíveis fósseis . No Brasil, foi observada uma redução de 45,7% no desmatamento da Amazônia y 25% no desmatamento do Cerrado. No estado do Rio de Janeiro o percentual de área preservada de Mata Atlântica é 29,7% da cobertura original. Segundo o Jornal Diário do Rio, o estado do Rio de Janeiro é o único estado brasileiro a aumentar cobertura de vegetação nativa, conforme estudo do MapBiomas que revela crescimento de 30% para 32% na cobertura florestal fluminense em quase quatro décadas. A Mata Atlântica agradece.
Boas notícias poderão vir da COP29, apesar das recentes eleições nos EUA indicarem situações futuras nada alvissareiras com relação a emergência climática. Enquanto uns mostram que é possível diminuir as emissões devido à redução do consumo de combustíveis fósseis e que a transição energética é uma realidade, outros vão incentivar o aumento de consumo de petróleo e gás. Não é à toa que existem 1700 lobistas da indústria do petróleo na COP29, em Baku.
No Brasil, as discussões sobre a transição energética estão cada vez mais fortes, mostrando caminhos baseados na produção de etanol de cana e de milho. A Universidade de São Paulo (USP) inaugurou na Cidade Universitária uma planta-piloto para produzir hidrogênio verde a partir de etanol. A iniciativa é fruto de uma parceria entre a USP, a Shell Brasil, a Raízen, a Hytron, o Centro de Tecnologia da Indústria Química e Têxtil (Senai Cetiqt) e a Toyota. A planta-piloto deve começar a produzir hidrogênio ainda neste semestre. A capacidade de produção será de 4,5 kg/h, suficiente para abastecer um automóvel sedã e três ônibus. Os veículos serão movidos por células a combustível, que geram eletricidade a partir do hidrogênio. O hidrogênio verde é uma forma sustentável de produzir hidrogênio, pois não emite CO2 durante a produção e utiliza energia renovável. Ele pode ser utilizado em diversos setores, como indústria, transporte e produção de eletricidade.
O problema é a Petrobras. Insiste na exploração de petróleo da foz do Rio Amazonas, se colocando na contramão da história e perfeitamente alinhada com as decisões do futuro governo Trump, além de não incentivar a mistura do diesel com biodiesel, que no meu entender já deveria estar no mínimo em B50. Argumenta-se que o problema vem dos motores que ainda carecem de tecnologia mais eficiente para utilizar essa concentração de biodiesel. Ora, ninguém nasce pronto. Só se melhora a tecnologia se for possível identificar as falhas. Não foi assim com o etanol? Não foi assim com os carros elétricos? Não foi assim com os carros da Fórmula 1? No biodiesel não é diferente.
Enquanto não se avança, já é possível ver nas estradas brasileiras caminhões elétricos carregando suas baterias nos postos de combustíveis. Isso é muito bom, mas a tecnologia é 100% importada. Biodiesel é no Brasil, Biodiesel é do Brasil! Ouvi estarrecido um depoimento da presidente da Petrobrás, Magda Chambriard, minimizando ao máximo os efeitos das mudanças do clima e utilizando argumentos que fariam ruborizar os maiores negacionistas.
Na agricultura já se observa um avanço importante dos bioinsumos. Os Institutos do Estado do Mato Grosso destacam que, ao se analisar o número de abates de bovinos com mais de três anos, o volume apresentou recuo significativo, ficando em 29,15% 2021 a 2023. Ou seja 30 % a menos de emissão de metano pela pecuária. Mantendo o boi na linha, a pecuária tem demandado cada vez mais as avaliações de balanço de gases de efeito estufa (GEE) no seu sistema produtivo. Aqui as notícias começam a ser boas.
Em recentes estudos publicados na Revista Agroanalysis, em mais de 100 fazendas analisadas, pelo menos 30% apresentaram um balanço positivo, ou seja, as emissões foram menores do que as remoções, considerando o sistema de produção adotado. Isso sem haver necessidade de alterar métricas e fatores de emissão.
Ainda persiste no Brasil, nos inventários de (GEE) para agropecuária, considerar somente as emissões e não o conjunto, emissões/remoções. Tenho dito há anos, que o boi brasileiro não é produzido em cima de uma placa de concreto, e sim sob pasto. Quando este pasto é bom, não degradado, o balanço final é altamente positivo para a pecuária. Começamos a quantificar isso. Obviamente que nesta conta, o desmatamento passa bem longe. Só vale se não tiver desmatamento.
O Observatório do Clima na sua proposta – esta sim ambiciosa e factível – de NDC para o Brasil, considera esse balanço, incluído as remoções. Aí, o Brasil é imbatível. É assim que vamos retomar o protagonismo nas discussões do clima em âmbito mundial. Muitas notícias boas! Enquanto isso, as emissões de GEE no globo aumentaram em 11% neste ano.
A má notícia, e em hipótese alguma negligenciável, fica por conta do possível desastre que o Governo Trump pode causar nas ações para reduzir os efeitos das mudanças climáticas. Talvez a América não venha a ser tão Great Again como está sendo dito. A natureza vai reagir…
E assim vamos avançando, aos trancos e barrancos, como escreveu um dia o saudoso Darcy Ribeiro. É sempre assim, notícias boas e notícias ruins. Mas será que temos luz no fim do túnel? Vamos reduzir as emissões?