Mudanças climáticas no Fórum Econômico Mundial de 2023

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Alice Assad e Leonor Assad

A 52ª edição do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, ocorreu de 16 a 20 de janeiro de 2023, com o tema “Cooperação em um Mundo Fragmentado”. Fundado em 1971 com o nome de Simpósio de Gerenciamento Europeu, o Fórum surgiu com a finalidade de reunir grandes economistas, investidores e empresárgios europeus para discutir os efeitos da globalização e os mecanismos para que as empresas do continente desenvolvessem técnicas de mercado, como as feitas nos Estados Unidos. Em 1974, o encontro recebeu pela primeira vez líderes políticos e passou a discutir questões econômicas e sociais e em 1987, o fórum recebeu o atual nome e ampliou sua visão sobre o mundo visando o diálogo. Atualmente, o Fórum de Davos é uma organização sem fins lucrativos que organiza reuniões anuais dos principais líderes empresariais e políticos, bem como intelectuais e jornalistas selecionados para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente.

Este ano, o Brasil foi representado pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Logo após a abertura do evento, Marina participou do primeiro debate público, intitulado “Em Harmonia com a Natureza”,  e  na quinta-feira (19), participou do painel “A Amazônia em uma encruzilhada”. Fernando Haddad participou de um debate na terça (17), intitulado “Brasil: um novo roteiro” –  que também contou com a presença da Ministra Marina – e outro na quarta-feira (18), que reuniu diversas lideranças da América Latina para discutir como a região pode se unir para cumprir uma agenda comum voltada para o futuro.

 Foto: REUTERS/Arnd Wiegmann

Davos está situada nos Altos Alpes suíços, a 1.560 metros de altitude e é a cidade mais alta do continente europeu. É uma das maiores regiões da Europa para a prática de esportes de neve e este ano, às vésperas do Fórum Mundial, a principal pergunta que era se haveria neve suficiente para esquiar. E não sem razão: as temperaturas estão acima do normal para o inverno de janeiro, a neve desapareceu e foi substituída por árvores e grama seca. Como a folhagem escura absorve o calor do sol, que antes era refletido pela neve branca, isto causa mais aquecimento e cria um círculo vicioso de aumento da temperatura.

Em Davos está situada uma estação meteorológica com a mais longa série de dados diários de profundidade de neve em alta altitude. Esses dados apontam que, em comparação com 1971, a camada de neve diminuiu mais de 40%, em média. Entretanto, o clima entrou na pauta só no Fórum de 2014. Este ano mais de um terço das discussões na agenda oficial estavam ligadas às mudanças climáticas, refletindo a crescente preocupação com o tema. E não sem razão.

Foto: Francesca Volpi/Bloomberg

No Brasil, no período de 1 a 11 de janeiro deste ano, Belo Horizonte recebeu 260 mm de chuva, Rio de Janeiro 108,2 mm, Salvador 87,6 mm e São Paulo 86 mm. Esses volumes representaram  mais de 78,5% da média histórica de precipitação em janeiro em Belo Horizonte; 78,9% da média do Rio de Janeiro; e 113,9% da média histórica de Salvador. Em São Paulo, a quantidade de chuvas permaneceu dentro do esperado, mas a queda de temperaturas bateu recorde, alcançando 23,9 °C de média das temperaturas máximas. Desde 1965, quando se registrou 23,8 °C não se registrava valor tão baixo. E mais, vários estudos apontam que as populações da periferia das cidades, assim como aquelas que  historicamente têm seus direitos violados como quilombolas, indígenas, populações pesqueiras e populações rurais, são as mais afetadas por enchentes, inundações e deslizamentos. O estudo “Racismo ambiental e justiça socioambiental nas cidades”, publicado em julho de 2022 pelo Instituto Pólis e com foco nas cidades de São Paulo, Belém e Recife, aponta que as pessoas mais expostas a enchentes, inundações e deslizamentos causados  pelo aumento de eventos extremos, como as chuvas fortes, são negras, de baixa renda e habitam regiões periféricas, em especial mães chefes de família, o termo cunhado para esse fato é racismo ambiental.

Portanto, ainda que pareça paradoxal bilionários e países muito ricos – muitas vezes acusados de causarem os maiores problemas do mundo – se reunirem para discutir formas de resolvê-los, a iniciativa é promissora. Quem sabe as altas temperaturas deste ano em Davos tenham mostrado aos participantes do evento a realidade do aquecimento global.


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