“O desabastecimento é um cenário que não podemos desprezar” comenta Eduardo Assad

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Por redação

Muitos veículos fizeram o balanço de como ficaria o valor do prato do brasileiro depois de todos esses eventos climáticos. Com a maior seca dos últimos 44 anos no país e milhares de focos de queimada no país, colocar a comida na mesa já está mais caro e ficará ainda mais nos próximos meses. Em matéria da UOL, já foi possível ver o impacto no preço do açúcar, suco de laranja, carnes, leites e derivados, entre outros.

“Depois de tantos eventos extremos no Brasil, nos deparamos a uma situação futura para a produção de alimentos, principalmente quando olhamos para as queimadas que ainda não acabaram… Já consigo prever uma quebra na produção de alimentos, que vão se juntar às quebras ocorridas nos últimos anos, quase 300 bilhões de reais, segundo estimativa do jornal Valor Econômico.” Comenta Eduardo Assad.

Valor do açucar sobe!

O fogo e as queimadas que tomam conta de várias regiões do país estão fazendo o preço de alguns produtos galoparem na Bolsa de Valores. Um deles é o açúcar cristal e refinado. Na sua forma bruta, a alta é significativa. “A alta chegou a 2,36% em média na semana passada. O mercado interno equivale a 25% do consumo. O restante, 75%, vai para a exportação. Todos sentirão a alteração nos valores da compra”, ininforma a economista e professora Luciana Rosa de Souza, da Escola Paulista de Política, Economia e Negócios da Universidade Federal de São Paulo (Eppen/Unifesp).

Cerca de 80 mil hectares em áreas de cana-de-açúcar e de rebrota de cana já foram queimados no estado de São Paulo. O prejuízo é de R$ 800 milhões, segundo a última estimativa divulgada pela Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).

Etanol também deve subir 10%. Segundo o Goldman Sachs, há riscos de que o volume de cana-de-açúcar processada para álcool também seja menor nos próximos anos, por causa da seca no período entressafra e queimadas. Os preços de etanol devem subir 10% até o fim da safra de 2024/2025, que termina em março.

Feijão mais caro

Outro alimento que está inflacionado é o feijão. O aumento, estima Luciana, chegará a 40% até o final do ano no atacado. E, consequentemente, no varejo, já que os prejuízos acabam sendo repassados ao consumidor final.

Mas a economista acredita que não faltará produtos nas gôndolas dos supermercados. “Todas as perdas que os agricultores tiveram acabam elevando os preços porque eles trabalham com margem de lucro e muitos riscos. Se eles não ganham, não há incentivo para voltar a plantar”, diz a economista.

Aumento nas frutas e hortaliças

A laranja também terá seu preço elevado. Análise feita pela Conab afirma que é preciso considerar o panorama internacional para o suco, uma vez que o Brasil é o maior produtor do mundo da fruta e de suco e os estoques estão baixos.

A tendência é que a indústria continue com demanda forte, mas a safra prevista será baixa. Isso tende a levar a uma menor oferta do produto para o atacado e mercado de mesa, fazendo com que os preços se mantenham elevados por mais tempo.

A produção de melancia também pode ser bastante afetada em São Paulo e em Goiás. Em SP, é uma fruta que se desenvolve e suporta bem o calor, mas sob influências de extremos climáticos pode perder qualidade (grau de doçura, manchas na casca) e tamanho.

A banana já está mais cara por causa da baixa quantidade produzida da fruta, comportamento normal para o período do ano, em entressafra em diversos locais. No entanto, essa alta foi acentuada e continua sendo afetada pela irregularidade da chuva, que provocou estresse hídrico e prejudicou os bananais e o desenvolvimento dos cachos.

As hortaliças costumam ter preços em queda no período de seca. Mas, conforme a Conab, a prolongada ausência de chuvas pode prejudicar as lavouras que não possuem sistema de irrigação. A atenção mais especial se destina à cenoura e ao tomate, produtos mais suscetíveis ao clima e que já têm ciclos de alta e quedas constantes.

Menos pasto encarece a carne, leite e outros derivados

O preço da arroba do boi gordo no atacado deve subir 2,47%. No varejo, ainda não há previsão, informa a economista da Unifesp.

Com o pasto seco, os pecuaristas precisam complementar a alimentação do gado com mais ração. Conforme pesquisadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada – Esalq/USP). o clima está bastante seco e a oferta de animais criados a pasto, cada vez mais escassa. Por isso, a criação deve passar para o confinamento, mais caro.

“Isto também vai afetar o valor do leite e seus derivados, como manteiga, requeijão e iogurte”, confirma o coordenador dos Índices de Preços do FGV IBRE, Andre Braz. O especialista em política monetária e inflação prevê o aumento na demanda de outros tipos de carne, como a dos suínos e do frango. Mesmo assim, não chegará a ser um ponto de pressão para a inflação, acredita. “Vamos manter o teto de 4,5%. O ideal seria o centro, no percentual de 3%”, prevê.

Recuperar solo leva tempo

Ainda é cedo para falar em desabastecimento, mas é um cenário que não podemos desprezar. Os eventos foram fortes e o aumento da temperatura vem se acentuando a cada ano, provocando impactos nas produções de laranja, café e demais culturas perenes. 

“Seria agora o momento ideal para propormos mudanças no sistema de produção, evitando danos ainda maiores no futuro. Começar o assunto falando sobre o fim do desmatamento e a não adoção das queimadas como forma de manejo” comenta Eduardo Assad.

Muitas queimadas atingiram grandes proporções, causando morte de animais, perda de culturas agrícolas e prejuízos com infraestruturas rurais e urbanas. Além do impacto econômico, social e ambiental, as queimadas afetam as propriedades físicas, químicas e biológicas dos solos. Grandes quantidades de carbono, nitrogênio, potássio e enxofre são perdidas para a atmosfera. Em longo prazo, essa alteração no solo causada pelo fogo tem consequências na biodiversidade e na manutenção dos ecossistemas.

Pesquisas indicam que o fogo compromete a qualidade do solo e a produtividade no decorrer do tempo. A queima da cobertura vegetal deixa a área descoberta, levando a maior absorção da radiação solar, com ampliação da temperatura e do ressecamento ao longo do dia. Porém, à noite, ocorre a perda de calor pela exposição, elevando assim a amplitude das variações térmicas diárias. Essas oscilações prejudicam a absorção de nutrientes e a biologia do solo.

A recuperação do solo pode levar cerca de três anos, com custos elevados para os produtores. “Porém, o manejo adequado do solo, aplicando boas técnicas, pode trazer benefícios no combate às mudanças climáticas nos próximos anos”, avalia o pesquisador Alberto Bernardi, da Embrapa Pecuária Sudeste e especialista em solos.

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