O futuro da vida humana na Terra é responsabilidade de todos

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Ainda que não exista solução individual para os problemas coletivos causados pelas mudanças no clima, todos somos responsáveis e cada um precisa fazer a sua parte

Alertas de que  ultrapassamos os limites do planeta –que estão sendo feitos há meio século–  se multiplicam ano a ano e estão relacionados com o modelo de crescimento econômico adotado por países desenvolvidos e almejado pelos países em desenvolvimento. Os impactos climáticos estão diretamente relacionados com as políticas adotadas na chamada Revolução Industrial do final do século XIX e que se expandiram no período pós Segunda Guerra Mundial. Esse modelo tem entre seus pilares um padrão de crescimento econômico baseado na queima de combustíveis fósseis e no desmatamento.

Carro, energia elétrica, grandes aglomerações urbanas e agricultura intensiva são alguns dos exemplos que marcam esse modelo de crescimento econômico. Mas, nas negociações climáticas na Organização das Nações Unidas (ONU), países como Rússia e Arábia Saudita, produtores de petróleo, são notórios obstrutores. O Brasil, país que não depende unicamente do petróleo em sua economia, ainda concede subsídios à sua produção de combustível fóssil.

E mais, empresas petrolíferas sabiam há décadas que os efeitos perversos da queima de combustíveis fósseis estavam cientificamente comprovados. Mas ainda assim promoveram a desinformação climática.  Por isso, empresas gigantes como a Exxon Mobil, Shell, BP, Chevron e outras estão sendo processadas pelo governo da Califórnia, que busca criar um fundo especial para pagar a recuperação.

Alertas e soluções existem; decisões controversas também

Agosto de 2023 fez juz à clássica rima “agosto é o mês do desgosto”.A NOAA (Agência Americana Oceânica e Atmosférica) alertou que na África, Ásia, América do Norte, América do Sul e no Ártico este ano foi o mais quente nos 53 anos de registro da instituição, enquanto que na Europa e na Oceania foi o segundo mais quente. E mais, o volume de chuvas no Amazonas, Pará, Acre, Amapá, Maranhão, Piauí, Bahia e Sergipe foi o menor já registrado desde 1980.

Eduardo Assad, diretor executivo da Fauna Projetos e pioneiro em estudos agroclimáticos e aquecimento global, citando matéria da Pesquisa Fapesp, destaca que julho de 2023 foi o mês mais quente na história recente do planeta, com temperatura média de 16,95 °C, ou seja, um grau e meio acima do nível registrado na época pré-industrial. Assad, que coordenou um estudo inédito sobre os efeitos das mudanças  climáticas na agropecuária, alerta que faltará água e que o mapa de produção agrícola brasileira mudará. Segundo ele, a boa notícia é que dá para amenizar os danos, com a adaptação do sistema produtivo e, principalmente, ouvindo e apoiando a ciência.  

Em 11 de agosto passado, o governo federal anunciou a nova versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano de Transição Ecológica, este com foco em temas como adaptação climática, mobilidade urbana, transição e segurança energética. Mas nem tudo é boa notícia nas políticas públicas brasileiras. O novo PAC refletiu a ambiguidade do atual governo, pois mescla projetos verdes com estudos de obras polêmicas, como a usina nuclear de Angra III, além de destinar mais de R$300 bilhões para empreendimentos da Petrobras em combustíveis fósseis.

Para ser sustentável, o desenvolvimento precisa ser de todos. Infelizmente o desenvolvimento econômico tem sido o grande foco, apoiado num forte desenvolvimento tecnológico e numa alta concentração de renda. Foram necessários mais de 50 anos e crescentes alterações no clima planetário para se constatar que é necessário mudar o rumo. A Terra está atualmente cerca de ou seja, esteve 1,5 ºC acima do valor médio que exibiu em meados do século XIX. A década 2011-2020 foi a mais quente registrada até agora. Atualmente as consequências das mudanças climáticas incluem, além de aumento de temperatura,  secas intensas, derretimento do gelo polar, incêndios severos, escassez de água, aumento do nível do mar, fortes tempestades, inundações e declínio da biodiversidade. 

Escolhas individuais, consequências planetárias

Com gestão de resíduos mais eficiente, lixo urbano do país tem potencial para evitar a emissão de mais de 30 milhões de toneladas de CO2 (Peter Dazeley/Getty Images)

Se todos são afetados, cada um tem sua parcela de responsabilidade com as  mudanças necessárias que precisam ser implantadas visando uma relação mais respeitosa e mais harmoniosa com o planeta. Quando abastecemos o carro,  somos responsáveis se escolhemos álcool ou gasolina. Quando compramos uma bolsa ou uma maleta, somos responsáveis se escolhemos uma feita de couro cru ou de couro sintético. O couro cru passa por um processo químico bastante poluente e consome 20% mais energia do que a produção do couro sintético.

Ainda assim, é melhor adquirirmos sempre que for possível produtos feitos com materiais reciclados. Dados da Abrelpe – Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais apontam que em 2022, produzimos 81,8 milhões de toneladas de resíduos nas áreas urbanas, ou seja, 224 mil toneladas diárias e, em média, 381 kg por pessoa por ano ou mais de um quilo de lixo por dia!

Todos somos responsáveis e os grandes desafios que temos não podem ser enfrentados sem a ajuda da sociedade. Está cada vez mais evidente que a ação humana sobre o ambiente é responsável pelos grandes desastres que estão colocando em risco a vida no planeta Terra. 

A autorresponsabilidade é um termo bem conhecido de especialistas em desenvolvimento humano e comportamental e usual como estratégia de gestão de carreiras. Ela está associada à importância de nos responsabilizarmos por tudo que acontece em nossas vidas, de positivo ou de negativo. E se nos responsabilizamos passamos a ter mais controle sobre nossas decisões de consumo, de descarte, de escolhas, enfim. A noção de autorresponsabilidade vem ganhando cada vez mais espaço no redescobrimento da importância do componente social nas estratégias de desenvolvimento sustentável necessárias para o enfrentamento dos impactos no ambiente em que vivemos. Somos responsáveis pelo que produzimos e pelo que descartamos. Somos responsáveis por nossa sobrevivência na Terra.

Conforme aponta Ana Laura Pantoni de Oliveira, em texto publicado em abril de 2020, “a conta do nosso egocentrismo chegou; se antes bastava que nos preocupássemos apenas com nosso país, quiçá nossa cidade, hoje já não basta mais. Agora, para que funcione para mim, é preciso que funcione para o mundo todo”. Afinal, por enquanto a Terra é o planeta onde podemos viver. E se o futuro das pessoas depende do futuro do planeta, o futuro do planeta depende das pessoas.

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